Para aqueles que ainda não nos conhecem, o Profuturo (Programa de Estudos do Futuro) da FIA (Fundação Instituto de Administração) oferece aos alunos do MBA Executivo Internacional, como parte integrante do curso, 4 viagens internacionais. Destinos que possibilitam ampliar o conhecimento em gestão internacional e impulsionam a carreira internacional dos nossos executivos.
O destino do mês de junho foi a China, grande potência que tem se destacado na economia mundial. O nosso aluno Gabriel Martins Dias, recém promovido a Gerente Analytics na empresa Semantix (especialistas em Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Análise de dados), escreveu um pouco sobre os avanços tecnológicos e culturais que observou durante os 10 dias da viagem de estudos no país.
Investimentos em tecnologia
Na primeira parte da viagem, vimos como o governo chinês vem investindo em tecnologias disruptivas, como Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Blockchain há alguns anos. Já são 4 pólos de inovação: Shenzhen, Shanghai, Pequim e Hangzhou. Em 2018, surgiram 160 unicórnios. Isto é, em média, 2 startups foram avaliadas em mais de US$ 1 bilhão por SEMANA. Enquanto isso, em 2018, o Brasil teve 5 startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Para atingir esses números, o governo chinês faz o maior investimento de Inteligência Artificial do mundo. Com câmeras espalhadas por toda cidade, o governo cria grandes volumes de dados e treina algoritmos avançados de análise de fotos e vídeos. Ilustrando a capacidade dessas aplicações, mais de 6 mil desaparecidos foram encontrados em 2018 graças ao reconhecimento facial do governo. A China possui uma estratégia muito consistente baseada em novas tecnologias, não apenas investindo em conhecimento técnico e infraestrutura tecnológica, mas também na geração de bases de dados que são essenciais para o amadurecimento de soluções baseadas em aplicações de Inteligência Artificial.
Há diversos exemplos desse forte investimento em tecnologias por meio de startups que aceleram a transformação de resultados de pesquisas científicas em produtos no mercado, como é o caso do governo de Hangzhou, que investe em startups de blockchain, concede isenção de impostos e benefícios fiscais há, pelo menos, 3 anos. A YooSourcing, que recebe incentivos do governo desde 2016, é uma startup que utiliza smart contracts e blockchain para agilizar processos de supply chain e dar visibilidade a pequenos fornecedores industriais que são capazes de garantir a alta qualidade. No Brasil, podemos pensar na aplicação imediata desse conceito no agronegócio. Uma das maiores preocupações dos médios e pequenos produtores está no impacto que as novas tecnologias podem ter na redução de custos dos grandes produtores, o que deve diminuir o custo fixo e reduzir as margens dos menores. O uso de uma plataforma baseada em smart contracts pode dar visibilidade para os médios e pequenos produtores aos olhos grandes varejistas e empresas do ramo alimentício. O maior desafio técnico desse tipo de plataforma, segundo o fundador da YooSourcing, é traduzir as regras de negócio em “yes/no-rules” que podem ser interpretadas por um computador via algoritmo. Além disso, claro, é necessário investir na criação de uma base significativa de usuários (produtores e fornecedores) interessados nesse mercado.
Para a evolução de áreas como a saúde e a indústria, a China posiciona seus investimentos na criação de dispositivos que possam se conectar à Internet e sejam capazes de executar automações simples. De acordo com empreendedores locais, o Japão e a Alemanha estão adiantados na criação de robôs ultramodernos com a capacidade de substituir linhas de produção completas. “Made in China 2025” é um plano do governo focado na excelência das indústrias locais. Em Dongguan, por exemplo, há um projeto de US$6bi de investimentos na robotização das indústrias. Na área de saúde, o Guangdong Medical Valley é uma incubadora focada em startups que desenvolvem dispositivos médicos criada em 2014 na região próxima à Guangzhou. O ecossistema conta com a colaboração de centros de pesquisa internacionais e a oferta de incentivos, como uma plataforma de fornecedores parceiros, treinamentos especializados e infraestrutura para a operação local. É possível desfrutar das instalações locais por 3 meses sem custo e, a partir do 4º mês, o valor da mensalidade é de US$800 por posição. Em paralelo, empresas maiores, como a Lenovo, se adiantam no investimento em plataformas em nuvem para gerenciamento e análise dos dados coletados por dispositivos médicos.
Meios de pagamento
Quem vive em regiões metropolitanas brasileiras convive com filas em caixas de restaurantes e para colocar créditos no cartão pré-pago do transporte público. Grandes metrópoles da China (Pequim, Shanghai e Guangzhou) possuem milhões de habitantes, mas já não sofrem com esses problemas e a solução é simples: pagamentos via QRCode. O QRCode pode ser explicado como a versão 2.0 do código de barras: cada código de barras utilizado nos produtos brasileiros contém uma sequência numérica de 13 dígitos e cada QRCode pode conter 4.296 caracteres de texto. Assim como o código de barras, o formato do QRCode segue o padrão, portanto a mesma informação sempre irá gerar o mesmo QRCode, que pode ser interpretado no mundo inteiro. Um QRCode pode armazenar info sobre o autor de uma transferência bancária, como o cartão bancário. Um app de celular pode gerar QRCodes que substituem o cartão, aumentando a segurança contra clonagens, eliminando senhas e agilizando pagamentos. Na China, o WeChat (Whatsapp chinês) gera QRCodes e conecta-se às contas bancárias dos usuários para realizar transferências. Nas metrópoles, todos estabelecimentos possuem leitores de QRCode e o papel moeda já não é utilizado, sendo tratado como exceção e causando espanto dos atendentes no pagamento.
Tecnologia 5G
700 Megabytes por segundo — essa é a velocidade de download obtida nos primeiros testes após a instalação de 4.300 antenas 5G em Pequim. Para efeito de comparação, esse número é 10x maior do que boas conexões 4G. O 5G é o novo padrão de redes móveis de comunicação e define novas tecnologias, protocolos e práticas para comportar o aumento significativo de dispositivos (celulares, relógios, máquinas industriais, carros e eletrodomésticos) conectados à Internet. A velocidade de conexão é apenas 1 indicativo da grande mudança que a 5G provocará nas nossas vidas. A alta qualidade das redes permitirá a criação de aplicações de Inteligência Artificial baseadas no processamento de imagens e vídeos dentro de casa e do ambiente de trabalho, assim como a popularização de carros autônomos e tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada no dia a dia das pessoas e empresas (principalmente indústrias) viabilizando aplicações da Indústria 4.0. Através de incubadoras de startups e de grandes empresas chinesas, como a Lenovo, o governo chinês vem investindo forte no desenvolvimento de dispositivos que possam ser conectados à Internet e também na criação de plataformas digitais que transformem esses dados em informações relevantes para as decisões humanas.
No dia 6 de junho, o governo chinês formalizou a concessão de 4 licenças de operação de redes 5G. Esse movimento oficializa o início da era 5G, que já vem sendo o foco de muitos investimentos no país, como patentes e infraestrutura de antenas. A China Mobile, maior operadora do mundo em número de clientes, acaba de anunciar US$2 bilhões em contratos para equipamentos e instalações 5G em 2019. O plano da empresa é levar a quinta geração de redes móveis para 40 cidades ainda este ano. Considerando as três maiores operadoras de telefonia móvel, de 80 a 90 mil antenas 5G serão instaladas ainda em 2019. Em comparação, os EUA têm poucos milhares de antenas até agora. Até 2025, o total investido no novo padrão deve variar entre US$140 e US$240 bilhões. Como consequência, o relatório da Global System para a Mobile Communications Association prevê que a China será o maior mercado 5G até 2025. No Brasil, algumas empresas já indicaram que devem começar a investir em projetos-piloto ainda esse ano, mas sem a pretensão de atingir escala comercial, que deve chegar apenas em 2021.
Conclusão
Sem dúvidas, a China é uma referência mundial em termos de tecnologia dados os investimentos e avanços industriais. A evolução do modelo tradicional de produtos “Made in China” para o foco em novas tecnologias e a mudança da economia é notável no dia a dia da população. No entanto, não podemos considerar a China com um modelo a ser seguido, graças às suas peculiaridades em relação ao governo abertamente intervencionista e, principalmente, à cultura milenar verticalizada e disciplinada que é reconhecida mundialmente e ilustrada na realização de obras gigantescas, como a Grande Muralha e a Cidade Proibida. O caminho é, portanto, reduzir a distância entre os empreendedores brasileiros e os avanços chineses, como fonte de inspiração para novos modelos de negócio e rápido crescimento, principalmente na área de tecnologia. A oxigenação de ideias adaptadas à realidade brasileira deve render ótimos frutos e grandes negócios no curto, médio e longo prazos.